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A origem do turismo nos Lençóis Maranhenses

De paraíso isolado a destino mundial

Antes de se tornar um dos destinos mais famosos do Brasil, os Lençóis Maranhenses foram um território quase desconhecido, habitado apenas por comunidades nativas que viviam em harmonia com as dunas e lagoas. A história do turismo na região é repleta de transformações: de uma terra isolada e intocada à paraíso maranhense e ícone mundial. 

Tempo de leitura: 5 minutos

Antes de ser “Lençóis Maranhenses”

Até a década de 1960, a região que hoje conhecemos como Lençóis Maranhenses sequer tinha esse nome. Era chamada de “morrarias” ou simplesmente “as dunas” pelos moradores locais.

Somente as comunidades que viviam próximas às areias conheciam o interior das dunas, já que precisavam atravessá-las para chegar ao mar durante as temporadas de pesca. Para a maioria dos moradores de Barreirinhas, o que existia eram apenas “pequenos Lençóis” na região do Caburé, onde iam pescar ou passar férias em cabanas de palha de pescadores.

Foi uma época em que esse espetáculo natural ainda era um segredo guardado pelas populações tradicionais.

A chegada da Petrobras e os primeiros visitantes de fora

Na década de 1960, tudo começou a mudar. A Petrobras instalou sondas de prospecção de petróleo nas dunas, abrindo estradas e picadas para veículos que passaram a alcançar áreas até então inacessíveis. De repente, áreas antes isoladas passaram a ser visitadas por engenheiros e técnicos – inclusive estrangeiros.

Mesmo que não tenha resultado em petróleo, essa fase mudou o destino da região. O transporte aéreo usado pela estatal proporcionava sobrevoos quase diários sobre as dunas e lagoas, revelando aos olhos externos o que antes era invisível. Para muitos, esses “forasteiros” foram os primeiros turistas involuntários da região.

Os primeiros viajantes e a descoberta nos anos 80

Se os anos 60 e 70 foram de descobertas pontuais, a década de 1980 marcou o início do turismo como atividade real.

Em 1981, através do Decreto nº 86.060, aconteceu a criação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, dando um novo status à região. O que antes eram as “dunas”, passou a ser uma Unidade de Conservação, gerida pelo ICMBio. São 155 mil hectares de dunas, lagoas, restingas e manguezais – maior que a cidade de São Paulo. A gestão pelo órgão busca equilibrar a preservação ambiental com o uso turístico sustentável, implementando regras de visitação, fiscalização e planos de manejo. Essa proteção garante não apenas a beleza cênica, mas também a manutenção dos ecossistemas e da cultura das comunidades tradicionais que vivem no entorno. 

Assim, ainda que sem qualquer estrutura turística, os primeiros visitantes começaram a chegar: mochileiros, hippies e aventureiros, em busca de contato direto com a natureza intocada – o verdadeiro turismo raiz.

Nesse período, um evento também ajudou a movimentar a cidade: a Vaquejada Regional. Criada em 1984, se tornou a maior festa popular local. Muitos  jovens barreirinhenses que estudavam em São Luís ou em outros estados começaram a trazer amigos para conhecer a região nas férias. A notícia das lagoas e dunas corria de boca em boca.

Pouco a pouco, começaram a surgir as primeiras pousadas familiares, os passeios de lancha no Rio Preguiças e os veículos adaptados para circular nas dunas.

Os anos 1990 e o fortalecimento institucional

Nos anos 1990, a região começou a se firmar como destino turístico graças a uma combinação de fatores: a visibilidade crescente do Parque Nacional, a chegada de turistas nacionais e as primeiras políticas públicas de incentivo ao turismo.

A atuação da MARATUR (Empresa Maranhense de Turismo) e, posteriormente, do governo estadual, ajudou a colocar os Lençóis em destaque. Em 1995, com a gestão de Roseana Sarney, foi lançado o Plano Maior de Turismo, que estabeleceu polos estratégicos no Maranhão, incluindo o Parque Nacional dos Lençóis.

Essa fase marcou a virada: os Lençóis saíram do anonimato e começaram a aparecer em catálogos e campanhas oficiais de divulgação.

Fonte: Imagem da internet

A construção da MA-402 e a consolidação de Barreirinhas

Se houve um marco definitivo na história do turismo local, foi a inauguração da rodovia MA-402, em 2002.

Conhecida como Translitorânea, a estrada reduziu em 100 km o trajeto entre São Luís e Barreirinhas, encurtando a viagem de 8 horas para cerca de 4 horas. Isso transformou Barreirinhas em destino acessível, consolidando seu título de Porta de entrada para os Lençóis Maranhenses.

A partir daí, o fluxo de turistas cresceu exponencialmente. Novas pousadas, hotéis, restaurantes e operadoras de passeios começaram a surgir. O turismo passou a ser a principal atividade econômica da cidade, substituindo antigos modos de vida ligados exclusivamente à pesca e à agricultura.

De paraíso escondido a ícone mundial

A grandiosidade dos Lençóis Maranhenses ultrapassou fronteiras. Em 2007, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses foi reconhecido como a maior beleza natural do Brasil, em uma campanha promovida pela Fundação New 7 Wonders, a mesma instituição que elegeu o Cristo Redentor como uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno.

Em 2025, o Parque conquistou o título de Patrimônio Natural Mundial pela UNESCO, reforçando sua importância não apenas para o Maranhão ou para o Brasil, mas para toda a humanidade. Esse reconhecimento celebra a singularidade de seu ecossistema, onde um “deserto com água” abriga uma rica biodiversidade e comunidades tradicionais que vivem em equilíbrio com o ambiente.

Sem a oficialização da região como Parque Nacional, e sua política de preservação, dificilmente os Lençóis teriam alcançado reconhecimento mundial como destino de ecoturismo. Mais do que um destino turístico, os Lençóis Maranhenses representam um símbolo de preservação, beleza e conexão com a natureza — um lembrete do quanto é essencial proteger esse patrimônio para as próximas gerações.

Conhecer a história do turismo nos Lençóis Maranhenses é também reconhecer o papel da comunidade local e das transformações sociais que tornaram esse paraíso acessível ao mundo.

Aqui na Lençóis Outdoor, acreditamos que viajar é também compreender o território e valorizar quem faz parte dele. Acompanhe nosso blog para descobrir mais histórias e planejar a sua próxima aventura com propósito e consciência.

Fonte do conteúdo: RAMOS, Baial. História de Barreirinhas: Portal dos Lençóis Maranhenses. São Luís, 2008